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4 de outubro de 2017 às 15:29.

Aspectos do serviço de telefonia em Manaus (Série 1960)

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A década de 1960 foi um dos períodos mais profícuos para o Amazonas nos aspectos econômico, político e sociocultural. Por conta disso, o IDD vai publicar a partir de hoje uma série de artigos, assinados por Durango Duarte, abordando diversos temas relacionados a esta fase abundante de fatos e de informações importantes sobre a história de Manaus e do nosso Estado. E este primeiro texto apresenta o início da implantação do sistema de telefonia na capital amazonense.

Nos primeiros meses do ano de 1960, Manaus já padecia com a precariedade dos serviços telefônicos prestados pela concessionária Pará Telephone Company. A Companhia Telefônica passava por dificuldades financeira insanáveis. A crise de fornecimento de energia em Manaus era crônica, dificultando a qualidade dos serviços de telefonia. Aliás, quase todos os serviços públicos e privados da cidade eram deficientes.

A empresa informava que o congestionamento ocorria na parte da manhã, quando o tráfego aumentava, requerendo trabalhar com maior consumo de energia. O aumento da demanda fazia com que o número de volts caísse para além do mínimo necessário. Havia carência de pessoal capacitado, esses, depois de qualificados pela empresa, demitiam-se e procuravam outros empregos.

A empresa sugeria, inclusive, que o comprometimento da qualidade estava na falta de preparo dos assinantes no uso do aparelho telefônico. Sustentava que eles não liam as instruções contidas no “Guia”, no capítulo “quando usar o telefone”. Esse desinteresse dos usuários prejudicava a melhor qualidade da prestação de serviços da empresa.

O nível de impaciência dos assinantes com a empresa não parava de se elevar, em fevereiro de 1961, extrapolou: durante oito dias os serviços explorados pela Pará Telephone Company Limited estiveram praticamente paralisados e por alguns dias só funcionavam altas horas da noite, deixando Manaus complemente isolada. A imprensa, por sua vez, clamava por intervenção enérgica do governador, sugerindo a anulação da concessão, para que o povo não continuasse a ser espoliado.

Em maio daquele ano a própria Companhia, sentindo-se impotente, apelou para o governador do estado para que se chegasse a uma solução “definitiva” do problema telefônico, novamente sugerindo ao governador que a solução passava pelo reajustamento das tarifas e aumento do valor do aparelho para os novos assinantes. O governador Gilberto Mestrinho determinou que técnicos especializados estudassem a situação e reuniu-se com os seus assessores Olavo das Neves e Villar Câmara, o chefe da Casa Civil, Antônio Zacarias Lindoso e o general Lincoln Jeolás dos Santos, engenheiro de comunicações e técnico conceituado da Companhia Telefônica Brasileira (CTB), para buscar uma solução para o problema.

O relatório apresentado tempos depois pelo general, revelou que a rede externa da companhia telefônica possuía 2.300 pares e já haviam 2.000 telefones instalados, operando no limite da capacidade. A quantidade de linhas foi dimensionada para uma cidade com, no máximo, 20 mil habitantes, e Manaus já possuía 300 mil habitantes.

O general relatou, ainda, que não houve cálculo de tráfego, quesito obrigatório antes da instalação. Naquele ano, Manaus tinha uma média de 20 chamadas por assinante. O general indicou a conveniência da constituição de uma nova sociedade, na qual a concessionária entraria com o acervo, o governo com uma parte do capital e os assinantes com o restante.

Em dezembro de 1962, mais uma vez os telefones emudeceram.   As crises se sucederam nos anos de 1963 e 1964, o aparelho telefônico em Manaus estava servindo muito mais como objeto de decoração do que como instrumento de comunicação inventado por Graham Bell. Registre-se que essa situação foi criada pela indústria Ericson, que fabricou e forneceu para Manaus equipamentos que pouco depois deixou de produzir.

A ORIGEM DA CAMTEL

Em janeiro de 1965, já sob o Regime Militar, para solucionar definitivamente o problema dos telefones de Manaus, o governo do estado instalou o Grupo Executivo de Telecomunicações – GETEL, junto à Comissão de Desenvolvimento Econômico do Estado do Amazonas – CODEAMA. Os membros do GETEL eram os senhores Carlos Lins, Mauro Porto, Callil Mussa e Júlio José Silva. O objetivo específico era dar corpo à criação da Companhia Amazonense de Telecomunicações – CAMTEL, que deveria tratar da instalação e exploração, como concessionária, de todo o sistema de comunicação do Estado.

Enquanto a CAMTEL era gestada, um pleito do governador Arthur Reis foi acolhido. A CONTEL – Conselho Nacional de Telecomunicações, órgão diretamente subordinado ao presidente da República, liberou a concessão de dois canais para radiotelegrafia de 10 KVA cada um, para serem instalados na sede do governo. Estava “resolvido” o problema de comunicação entre o Palácio Rio Negro e as “esferas oficiais” no sul do País.

Quando da inauguração da nova sede do Banco do Estado do Amazonas, o governador anunciou que naquele momento, o governo subscrevia a sua cota inicial de ações da recém-criada Companhia Amazonense de Telecomunicações – CAMTEL, num total de Cr$ 347.000.000, além da importância que obrigatoriamente teria de contribuir como percentual sobre a sua cota de participação na CAMTEL, essa de Rr$ 155.000.000. O governo marchava para uma solução do angustiante problema telefônico da capital.  E assim, sob os melhores auspícios, a CAMTEL nasceu.

Para que se tenha uma ideia da euforia que a criação da Companhia causou em Manaus, no dia 2 de abril, em apenas quatro horas de trabalho, a CAMTEL efetuou a subscrição de mais de 21.000 ações ordinárias nominativas de cinco mil cruzeiros cada, as quais passaram a constituir a formação do seu capital. A prefeitura de Manaus também aderiu ao programa e adquiriu 4.200 ações. Naquele dia o Banco do Estado do Amazonas superlotou e precisou requisitar auxiliares para atender a demanda.

Em 4 de maio, 270 mil ações já haviam sido subscritas. Em novembro, a empresa assinou com a Standard Elétrica S.A., o contrato de compra e equipamento da nova central telefônica de Manaus, com inauguração programada para o dia 6 de abril de 1967, e montagem e instalação prevista para 18 meses, o que não ocorreu.

Em novembro, por iniciativa do vereador Paulo Nery, foi votada e aprovada em regime especial de urgência, o projeto de lei que outorgava a CAMTEL a concessão e exploração dos serviços de comunicação telefônica em Manaus. O projeto isentava a Companhia por 20 anos do pagamento de impostos e taxas municipais.

A Companhia precisa de uma área para edificar a Central Telefônica de Manaus. O terreno escolhido se localizava na Av. Getúlio Vargas esquina com a Rua Leonardo Malcher. O início do processo de desapropriação deu-se nos primeiros dias de dezembro de 1965, o projeto arquitetônico ficou a cargo do arquiteto Severiano Mário Porto.

A concorrência para a construção do prédio da CAMTEL ocorreu no dia 18 de janeiro de 1966, a firma vencedora para a execução das obras foi a firma paulista Lacaze & Pizão Ltda. A CAMTEL nasceria com a capacidade para 10.200 linhas comercias e residenciais.

Coube a Ericsson do Brasil Comércio e Indústria S.A. a instalação e montagem do serviço de telefonia. Uma enorme contradição, já que essa empresa era a mesma que, anos antes, havia fabricado e fornecido os equipamentos inadequados usados em Manaus, os quais os deixou de produzir.

Em fevereiro, o Conselho Nacional Rodoviário autorizou através de uma Resolução, o recebimento, durante quatro anos, de quatro bilhões de cruzeiros, consignados ao Departamento de Estradas e Rodagens do Amazonas, do Fundo Rodoviário Nacional.  O Amazonas foi o primeiro estado a conseguir autorização para utilizar recursos do Fundo Rodoviário para serviços de Telecomunicações.

A Indústria Brasileira de Eletricidade Sociedade Anônima – IBELSA, em convênio firmado com a CAMTEL, cuidaria das montagens das estações radiotelefônicas. Em uma primeira etapa nos municípios de Parintins, Itacoatiara, Manacapuru e Coari. A segunda etapa, prevista para 1967, abrangeria os municípios de Manicoré, Maués, Borba, Benjamim Constant e Boca do Acre. Na terceira etapa, com execução programada para 1968, Eirunepé, Lábrea, Humaitá, Tefé, São Gabriel da Cachoeira e Barcelos.

No dia 13 de abril de 1967, o primeiro aparelho telefônico da CAMTEL, de cor cinza, foi  instalado na capital, no apartamento do governador Danilo Areosa, no edifício IAPETEC, o seu número era 2-1313.  Depois foram instalados telefones na casa do vice-governador Ruy Araújo, do presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador João Meirelles, na matriz do Banco do Estado do Amazonas e nas sedes dos jornais e emissoras. A primeira cidade do interior a receber uma central telefônica foi Manacapuru, evento ocorrido no dia 8 de agosto de 1967.

No fim daquele ano a Assembleia Legislativa aprovou e o governo sancionou uma lei autorizando o chefe do Executivo a rescindir o contrato de concessão com a Pará Telephone Company Limited, previsto para vencer somente em 15 de novembro de 1968. Essa decisão implicava na indenização de NCr$ 135.000,00, em face a antecipação do término do prazo contratual. O acervo do serviço telefônico de Manaus, tal qual sugerira o general Lincoln Jeolás dos Santos, seria incorporado ao patrimônio do estado do Amazonas.

Inicialmente previsto para inaugurar em junho de 1967, a CAMTEL foi inaugurada pelo governador Danilo Areosa, no dia 1º de fevereiro de 1968, e contou com a presença do ministro das pastas de Comunicações, Carlos Furtado de Simas e do Interior, Albuquerque Lima; do presidente do CONTEL, Pedro Lion Schaider e do presidente da CAMTEL, Carlos Lins.

Em maio de 1969, além de Manaus, funcionavam regularmente as estações radiotelefônicas de Itacoatiara, Parintins, Manacapuru e Coari.

Décadas mais tarde a CAMTEL deixaria de existir, em seu lugar surgiria a Telecomunicações do Amazonas S/A – TELAMAZON, até que ocorresse a privatização do sistema de telefonia no Brasil, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

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