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29 de novembro de 2017 às 08:00.

IDD: Bombeiros em Manaus (Série 1960)

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No ano de 1960, a capital do Amazonas tinha uma população que beirava 200 mil habitantes e dispunha de dois serviços de bombeiros: a Companhia de Bombeiros e o Corpo de Bombeiros Voluntários. O primeiro de responsabilidade do poder público; o segundo, uma corporação composta por 60 voluntários, homens comandados pelo idealizador e financiador José Antônio Ventura (14/04/1897-6/12/1961), o “capitão” Ventura, um industrial português, natural da freguesia de Bonfim, concelho e distrito do Porto.

A ideia da criação de um serviço de bombeiros voluntários nasceu após as tragédias de incêndio na Lusitana Industrial Ltda. (1942), fábrica de sua propriedade, e a da fábrica de bebidas de Virgílio Rosas, situada na Rua Marcilio Dias, no Centro, acontecido em agosto de 1951. Com o apoio de sua esposa, Silvia Isabel Neves, irmã do ex-governador Leopoldo Neves (1947-1951), o Pudico, o “capitão” Ventura a materializou.

Capitão Ventura, fundador do Corpo de Bombeiros Voluntários de Manaus. In: O Jornal, de 7 de dezembro de 1961.

Os bombeiros voluntários tinham três uniformes, o de operações – mais emblemático – era o macacão azul com capacete metálico, que trazia no peito o distintivo com as iniciais BVM. Faziam parte, em sua maioria, comerciários e operários, além de funcionários públicos e profissionais liberais. Dentre eles figuravam os Srs. Francisco Rebelo de Souza, Manoel Gomes, Danilo Matos Areosa, Hermínio Barbosa, Jorge Abrahim, José Afonso, Raul Batista Rodrigues, Moacir Fortes Xavier, José Luciano Ventura, Brígido Torres Nogueira, Severino Paiva, Phelippe Daou e outros.

As ocorrências de incêndios eram anunciadas na cidade através de sirenes e por meio do rádio e, não raro, os Bombeiros Voluntários de Manaus-BVM chegavam antes do Corpo de Bombeiros Municipal. Mas isso não significava concorrência entre eles, ao contrário, havia um perfeito entendimento, com o estabelecimento de um comando conjunto quando entravam em ação.

Ocorria que os bombeiros Municipais não possuíam viaturas, nem equipamentos e, por isso, tinham suas funções desviadas trabalhando nas feiras, nos mercados, nos jardins, na coleta de lixo e até em faxinas no Teatro Amazonas.

Bombeiros Voluntários à frente do carro que utilizavam no trabalho de assistência social na cidade. In: A Crítica, de 21 de outubro de 1958.

Registro dos Bombeiros Municipais combatendo um sinistro no bairro Presidente Vargas. In: O Jornal, de 13 de setembro de 1963.

No dia 27 de maio de 1963, dois carros de incêndio recém adquiridos chegaram a Manaus, ambos possuindo tanques para armazenamento de água, um com capacidade para três mil litros e outro para cinco mil litros. Os veículos eram de fabricação nacional com chassis Ford. A bomba-vedete era a “água-jet”, uma bomba de alta potência acoplada a um motor a gasolina, que permitia que a 100 metros de distancia de um hidrante, a água viesse às mangueiras, que lançava um jato da altura de um prédio de três andares. O quartel do Corpo de Bombeiros ficava na Avenida Sete de Setembro e o número de sua linha telefônica era 13-90. A reinauguração da sede ocorreu no dia 11 de julho de 1963.

Com o tempo percebeu-se que a localização do quartel na Avenida Sete de Setembro era inadequada, assim, em janeiro de 1966, a Secretaria de Obras de Manaus iniciou a recuperação total do prédio do antigo Hospital São Sebastião, localizado na Rua Ramos Ferreira, demolindo todos os seus pavimentos internos e adaptando-o para o novo quartel do Corpo de Bombeiros Municipal.

Em 1967 e 1968, dois episódios macularam a imagem dos Bombeiros Municipais. O primeiro deu-se no dia 18 outubro de 1967, quando o comerciante Cícero Francisco Souza, foi vítima de brutal espancamento por parte de 20 bombeiros municipais, no interior do Brahma Bar, no Edifício Tartaruga, Centro. Os “soldados de fogo” realizavam uma operação de retirada de camelôs da Rua Marques de Santa Cruz, quando espancaram um menor. O protesto das testemunhas foi geral, incluindo Cícero Francisco de Souza, proprietário do Bazar Dalva, localizado ao lado do referido Brahma Bar.

Inconformados com os protestos, os bombeiros, obedecendo ao comando de um sargento, investiram contra o comerciante que se encontrava à porta do seu estabelecimento comercial. Deram-lhe voz de prisão de forma agressiva, sob a ameaça de revólveres, alguns até tentando puxá-lo para fora. Cícero conseguiu escapar, mas ao correr para o Brahma Bar, com o propósito de telefonar para a polícia solicitando providências, aumentou o ódio dos bombeiros, que arrancaram o telefone das mãos do comerciante e passaram a espancá-lo com murros, pontapés, coronhadas de revólveres e cassetetes.

Após ser conduzido à delegacia de Segurança Pessoal e encaminhado ao Pronto Socorro São José, ficou constatado, de imediato, que a vítima não se encontrava armada quando agredida e nem reagiu à prisão, conforme haviam dito seus agressores, apenas defendeu-se como pode ante a superioridade de seus espancadores.

O segundo caso ocorreu em março de 1968, a vítima tinha sido Raimundo Ferreira da Rocha, o “Vandico”, morto na cela da Central de Polícia, supostamente por seu irmão, o marítimo Roberto Ferreira da Rocha. O advogado do suspeito sustentava que “Vandico” havia morrido em consequência do pisoteio e pancadas recebidas dos bombeiros municipais, na ocorrência no Mercado Municipal, em que este fora detido juntamente com Roberto Rocha.

O Corpo de Bombeiros foi criado em 1876, através da portaria nº 268, assinada pelo então 1º Vice-Presidente da Província, Capitão de Mar e Guerra Nuno Alves Pereira de Mello Cardoso. O Serviço de Extinção de Incêndios era realizado pela Companhia de Bombeiros, sendo seu primeiro Comandante o Coronel de Engenheiros Joaquim Leovegildo de Souza Coêlho.

Em 1908, o governador Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, coronel da Guarda Nacional, em acordo com o Superintendente da Capital, transferiu pela primeira vez o Corpo de Bombeiros ao município de Manaus, através do Decreto Municipal nº 18/1908.

A partir de então, em várias ocasiões o Corpo de Bombeiros ficou sob a administração da Prefeitura ou do estado do Amazonas. Finalmente em 1972, através do Decreto nº 2.426, que reestruturou a força militar estadual, o Corpo de Bombeiros retornou para a administração Estadual, ficando subordinado a Polícia Militar do Amazonas. Após 26 anos de subordinação à PM, a corporação ganhou sua autonomia administrativa em 1998.

No dia 11 de julho de 2017, o Corpo de Bombeiros do Amazonas (CBMAM), o segundo mais antigo do País, completou 141 anos de fundação.

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